sexta-feira, abril 04, 2008

A SEDUÇÃO DA FARDA.

COMPORTAMENTO
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A SEDUÇÃO DA FARDA
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Apesar dos baixos soldos e do desprestígio da carreira, jovens de classe média buscam as academias militares. O que os atrai para as Forças Armadas?

Os salários estão defasados há quase uma década, a farda já não exerce o mesmo fascínio de outros tempos e a carga de estudos exigida é muito grande. Apesar disso, todos os anos milhares de jovens brasileiros escolhem a carreira militar como opção profissional. São adolescentes de classe média, a maioria da região Sudeste, que deixam de lado o vestibular convencional para sonhar com uma vaga de oficial no Exército, na Marinha ou na Aeronáutica, o equivalente a uma ocupação civil de nível superior. Procuram realização profissional e sabem que não são muitos os benefícios financeiros, mas consideram que há compensações, como a estabilidade e o ambiente disciplinado. “Sei que há outras profissões com remuneração melhor, mas tenho grande vontade de ser militar, é uma carreira muito bonita”, acredita o carioca Miguel Lucio, 17 anos, que estuda com afinco para ingressar na Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga. “Além disso, tem a vantagem da estabilidade”, completa. Em 2007, cerca de 30 mil jovens que pensam como Miguel tentaram as vagas de oficial oferecidas pelas três Armas.

Além da AFA, que pertence à Aeronáutica, também a Escola Naval (EN), da Marinha, e a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), do Exército, servem de acesso à carreira militar. Segundo uma pesquisa feita pela Marinha, a maior parte dos jovens, 64%, se torna oficial por causa de itens como “realização profissional” e “organização e disciplina”, o que confirma sua vocação natural. A “estabilidade” na profissão também seduz: 62% citam esse fator. Já a remuneração não atrai: apenas 8% decidiram pela carreira de olho no soldo.

A Aman é a unidade mais visada pelos estudantes de todo o País. Atualmente, ali são preparados 1.750 cadetes, submetidos a quatro anos de formação. Além da rigorosa preparação de guerra, com exercícios físicos, sessões de tiro, equitação e outros treinamentos de batalha, os cadetes da Aman também têm uma atividade intelectual puxada. O ensino de ciências exatas, geografia, história e línguas rivaliza com as principais universidades brasileiras. Outra meta – talvez a principal – é passar noções de liderança, um dos pontos que mais atraem o jovem. “É muito boa a possibilidade de ser um multiplicador. Vamos poder repassar à tropa conhecimento e valores”, acredita o cadete João Gabriel Álvares, um mineiro de 20 anos.

Ao começar a atuar como oficiais, os jovens receberão remuneração em torno de R$ 3 mil. No topo da trajetória militar, depois de décadas de serviço, esse soldo pode chegar, no máximo, a R$ 14 mil. “Quem ingressa nessa função não deve pensar em ficar rico. Mas terá o suficiente para levar uma vida digna”, define o general-de-brigada Gérson Menandro, comandante da Aman. A academia tem uma extensa tradição. Em 1810, dom João VI criou a Academia Real Militar, embrião da instituição atual. Do livro de visitas constam assinaturas do duque de Caxias, do presidente Getúlio Vargas e do presidente americano Dwight Eisenhower, entre outras personalidades.

O alto nível de ensino também é a marca dos cursos preparatórios de oficiais das outras Armas. A Escola Naval é a mais antiga instituição universitária em atividade no País. Foi criada ainda em Lisboa em 1782 e transferida para o Brasil com a vinda da família real. A Academia da Força Aérea (AFA) exerce grande fascínio sobre os jovens, já que muitos querem se tornar aviadores. Outro atrativo é o fato de a Aeronáutica ser a única força em que as mulheres podem ser oficiais de carreira. Nos cursos pré-militares, o percentual de jovens do sexo feminino que pretendem ser aviadoras é significativo. “Acho que a AFA é um bom caminho, onde eu poderia também estudar odontologia”, acredita a candidata Jéssica Souza, 17 anos. Ela diz que a exigência física não a assusta e elogia a estabilidade da carreira. O salário é o que a faz titubear. “Considero ainda a possibilidade de ingressar na Marinha Mercante.”

A defasagem na remuneração tem pesado bastante. O último reajuste salarial às tropas foi concedido em agosto de 2006. “Hoje, os candidatos são pessoas com vocação para a vida militar e não buscam mais altos ganhos na carreira”, garante André Barbosa, dono do Curso Seleção, de Brasília, que há 27 anos prepara estudantes para esse tipo de concurso. Por causa do descompasso salarial, os jovens têm procurado menos os cursos pré-militares. No Seleção, os últimos três anos foram difíceis. “O número de alunos caiu 50% nesse período”, diz Barbosa. Também o Tamandaré, um dos cursos mais tradicionais do País na área, fundado no Rio de Janeiro em 1951, registrou uma queda de 20%. “Muitos jovens que seguiriam a carreira militar têm preferido prestar concursos públicos para carreiras civis, onde a remuneração é maior”, diz o professor Carlos Alberto Guerra, coordenador do Tamandaré.

Mesmo os já formados seguem esse caminho. Desde 2006, 385 oficiais de carreira deixaram o Exército, 27 deles somente em 2008. “A maioria passou em concursos públicos civis”, diz o deputado federal e capitão Jair Bolsonaro (PP/ RJ). Apesar disso, ingressar na carreira militar ainda é a meta de muita gente e o número de candidatos se mantém estável nos últimos anos. Gregory Bastos, 17 anos, que estuda no Tamandaré, quer entrar para qualquer das três Forças. “Vou tentar a AFA, a Escola Naval e a Aman”, diz ele. Nesse caso, vocação não vai faltar.



FONTE: http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2000/artigo73723-1.htm

O BRASIL NA ACADEMIA DA REPRESSÃO.

FORÇAS ARMADAS
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O Brasil na academia da repressão
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Escola americana que ensinou tortura aos agentes da ditadura ainda recebe e forma militares brasileiros.
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FRANCISCO ALVES FILHO
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Situado na cidade de Fort Benning, na fronteira dos Estados americanos da Georgia e do Alabama, o prédio da Escola de Infantaria é vigiado há décadas pelas entidades mundiais de defesa dos direitos humanos. Ali funciona o Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança. A instituição ganhou essa identificação em 2001, mas continua conhecida pelo antigo nome, School of the Americas (SOA), e por um apelido tristemente famoso: "Escola de Assassinos." Criada em 1946 para possibilitar o intercâmbio entre militares americanos e seus colegas da América Latina, revelou-se especialmente eficaz em formar repressores que atuaram nas ditaduras da América Latina nas décadas de 70 e 80. De lá, saíram déspotas como o panamenho Manuel Noriega e o boliviano Hugo Bánzer, além de muitos oficiais brasileiros acusados de torturas durante o regime militar. Por isso, são freqüentes as manifestações pelo fechamento da instituição. Os governos da Argentina, do Uruguai, da Venezuela e da Bolívia não enviam mais soldados para lá por considerá-la antidemocrática. Já o governo brasileiro guarda, há tempos, silêncio sobre o assunto. Talvez para não ter de explicar uma situação constrangedora: mesmo sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aliado com a esquerda e ex-preso político, o Brasil mantém o intercâmbio e ainda manda militares para a Escola das Américas.
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Um levantamento feito por ISTOÉ revela que pelo menos 12 militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, dois bombeiros do Rio de Janeiro e um do Espírito Santo foram mandados nos últimos quatro anos para o Whinsec (sigla em inglês do instituto). Entre eles há um general, Augusto Heleno Pereira, atual comandante militar da Amazônia, que foi palestrante em 2006, e vários coronéis, como Antonio Monteiro, que foi instrutor em 2003 e hoje é responsável pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva. Na gestão de Fernando Henrique Cardoso, que também lutou contra a ditadura e foi exilado político, ao menos três oficiais foram enviados à instituição.
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Além dos convidados, o Brasil mantém no Whinsec um corpo permanente de instrutores, a Oficina Duque de Caxias, onde atuam um coronel e dois sargentos do Exército e um sargento da Marinha. Os representantes do Brasil no instituto seguem a doutrina militar americana, fazem parte da preparação para o combate ao narcotráfico (principalmente voltado para a situação na Colômbia), ação antiterror e guerra no Iraque. Militantes que defendem os direitos humanos ficaram surpresos. "É absurdo que o Brasil continue enviando militares para uma escola com esse histórico", reclama Cecília Coimbra, do grupo Tortura Nunca Mais. "O governo deve esclarecer por que usa nossos impostos para treinar homens num centro formador de torturadores e assassinos."
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A School of the Americas foi criada no Panamá e em 1983 se transferiu para Fort Benning. A instituição atraiu a atenção do mundo em 1993, quando divulgou a relação de soldados diplomados. Centenas deles tinham se envolvido em homicídios, torturas e golpes de Estado. Eram personagens como os dois integrantes das juntas militares argentinas, os generais Roberto Viola e Leopoldo Galtieri; o coronel Domingo Monterrosa, que comandou um massacre de dezenas de pequenos agricultores em El Salvador; o general hondurenho Humberto Ragalado, ligado aos cartéis de drogas colombianos; além de vários outros envolvidos em crimes cometidos na América Latina. O Pentágono revelou, em 1996, que a instituição criou um manual de tortura, onde orientava como tratar prisioneiros das formas mais violentas possíveis. O fato levou o jornal The New York Times a publicar um histórico editorial sob o título Escola de ditadores. Os protestos pelo fechamento do instituto continuam e anualmente uma multidão se reúne à frente dos seus portões carregando cruzes que representam as vítimas. A última manifestação, em novembro, reuniu 20 mil pessoas, entre americanos e latino-americanos. Há oito meses, congressistas americanos votaram uma emenda que propunha acabar com o Whinsec, derrotada por seis votos de diferença.
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Através do Centro de Comunicação Social, o Exército justificou a participação brasileira: "A citada instituição (...) não herdou da antiga 'Escola das Américas' objetivos pedagógicos ou conteúdo programático nem deve ser confundida com a mesma". O e-mail enviado à ISTOÉ destaca que "a proposta da escola e os fundamentos dos cursos são baseados na Carta da OEA".


O PESO DO PASSADO Na Escola de Infantaria fica o Instituto do Hemisfério Ocidental, sucessor da Escola das Américas. Todo ano ocorrem protestos pelo fechamento do instituto, onde o sargento bombeiro brasileiro Carlos Eduardo Sá Ferreira foi receber instrução em 2007


É verdade que, nessa nova fase, os militares americanos incluíram no currículo aulas de direitos humanos e noções de democracia. Mas o Whinsec/ School of the Americas ainda está longe de seguir a Carta da OEA. Em seu artigo 2º, o documento prega o "princípio da não-intervenção", enquanto a linha do instituto é claramente intervencionista. "Eu treino homens para entrar nas selvas colombianas e lutar", escreveu o coronel americano Robert Fausti sobre seu trabalho no instituto, na Infantry Magazine (Revista da Infantaria) de janeiro de 2005. "Hoje, El Salvador e outros países do Hemisfério Ocidental (América Latina) têm unidades no Iraque e Afeganistão. O Whinsec treinou vários desses soldados (...)."
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Como resultado dessa orientação, militares brasileiros acabam colaborando indiretamente em conflitos nos quais o Brasil não está envolvido. Mesmo o sargento do Corpo de Bombeiros do Rio, Carlos Eduardo Sá Ferreira, que esteve no instituto no ano passado para fazer um curso de saúde, notou que o cenário de alguns treinamentos imita o ambiente de países inimigos dos EUA. "Eles nos colocaram para correr num solo que simula o terreno do Iraque, uma areia mais fina que a da praia. Parecia que estávamos no deserto", admitiu. "Achei o curso muito proveitoso." Ferreira também recebeu aulas sobre a Constituição dos EUA e a doutrina americana.
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Esse é outro problema grave no intercâmbio. O soldado Dejaci da Silva, que fez curso no Whinsec há dois anos, reconheceu a distorção em depoimento na revista O anfíbio, do Corpo de Fuzileiros Navais, de 2006: "Imaginei alguns desafios que teria pela frente, afinal ensinaria a Doutrina Militar Americana em espanhol (...) para estudantes de todo o Hemisfério Ocidental". Ao saber da manutenção do intercâmbio, o senador petista Eduardo Suplicy estranhou. "Não é papel dos soldados brasileiros ensinar a doutrina militar americana. Ainda mais diante do veto do presidente George W. Bush à lei que proíbe a tortura", afirmou.
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Além disso, alunos formados no instituto mantêm a tradição de envolvimento em casos de crimes e violência. Um dos mais recentes ocorreu em agosto do ano passado, quando um coronel e um major colombianos foram presos por envolvimento com o narcotráfico. Em 2003 e 2004 eles atuaram no Whinsec como instrutores de "sustentação democrática" e "manutenção da paz". Como se vê, as coisas não mudaram tanto em Fort Benning.

Ao contrário do Brasil, países como Argentina e Uruguai romperam com a Escola das Américas depois da redemocratização

MATANÇA IMPUNE.

BRASIL
MATANÇA IMPUNE
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Após reportagem de ISTOÉ, três militantes da LCP são mortos e o governador de Rondônia pede ajuda federal para combater a guerrilha
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ALAN RODRIGUES
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Anhanga, na língua da tribo indígena uru-eu-wau-wau, que habita boa parte do Estado de Rondônia, significa inferno. Ireroa quer dizer guerra. Os dois substantivos traduzem de forma literal o clima que tomou conta dessa parte do País por causa das ações da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), uma organização de extrema-esquerda que treina homens armados em busca de uma “Revolução Agrária” e que já tem nove vezes mais combatentes que o PCdoB na Guerrilha do Araguaia. No sábado 21, mais três bárbaros assassinatos na área dominada pelos insurgentes elevou para 25 a trágica contabilidade do conflito nos últimos 12 meses.
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Mas nessa última batalha, que aconteceu próxima à base da guerrilha, no distrito de Jacinópolis, a 450 quilômetros de Porto Velho, os três corpos que tombaram eram de militantes da organização clandestina: Aparecido Mendes de Oliveira (dois tiros calibre 12 na cabeça e no peito), Francisco Pereira do Nascimento (três tiros de 12, na cabeça, no rosto e no peito) e Otiniel Sampaio Souza (cinco tiros calibre 38 no corpo).
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A gravidade da situação, denunciada por ISTOÉ na última semana, fez com que o governador Ivo Cassol (sem partido) solicitasse o desembarque da Força Nacional de Segurança para ajudar a combater esse grupo bandoleiro. “A reportagem de ISTOÉ serviu para mostrar ao Brasil o que nós já sabemos há muito tempo. Várias vezes pedimos providências para o governo federal e nada foi feito. Em vez de multar madeireiros, por que eles não vão combater esses criminosos? Quantas mortes inocentes ainda serão necessárias para que se tome uma atitude?”, questiona Cassol. “Cabe às Forças Armadas lidar com este tipo de conflito. Eles estão numa área federal e o governo do Estado fará o que for possível para ajudar no combate a esses guerrilheiros.”
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No Congresso Nacional, deputados e senadores dos mais variados partidos foram à tribuna ou enviaram ofícios aos órgãos federais revelando a mesma indignação com o descaso. “Não entendo o porquê da conivência com esse estado de barbárie”, diz o deputado federal Giovanni Queiroz (PDT-PA). “Não podemos mais conviver com a situação de medo, pavor e a insegurança que domina nosso Estado”, emenda o deputado federal Ernandes Amorim (PTB). “Estamos vivendo a desobediência civil, uma verdadeira anarquia.”
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Na Esplanada dos Ministérios, optou-se pelo silêncio. A autoridade encarregada de acompanhar conflitos no campo, o ouvidor agrário nacional, Gersino José da Silva Filho, que desde 14 de dezembro do ano passado possui um dossiê sobre as ilegalidades da LCP, resume a inépcia oficial: “Nossos relatórios apontam que todas as classes, sem-terra e fazendeiros, estão altamente armados”, explica ele, informando que repassa aos ministérios da Justiça e da Defesa tudo que sabe sobre o conflito em Rondônia. “Não sei dizer onde estão parando os documentos.”
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Seu superior, o ministro da Reforma Agrária, Guilherme Cassel, avisou pela assessoria que “não comenta sobre movimentos sociais”. Se o ministro da Reforma Agrária acha que assassinatos são coisa de “movimentos sociais”, então é o caso de saber o que pensa o ministro da Justiça, Tarso Genro. Mas ele nem sequer retornou as quatro ligações da reportagem. O responsável pela Defesa, Nélson Jobim, informou que não vai falar sobre o caso – mas haverá de chegar um dia em que ele terá de se explicar no Senado. Na quinta-feira 27 de março, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) apresentou um pedido de convocação do ministro Jobim para que ele dê explicações públicas sobre a guerrilha.

Cravada na Serra da Fortaleza, na divisa do Brasil com a Bolívia, a base de treinamento dos guerrilheiros é uma área de dificílimo acesso. Sob a bandeira da LCP, eles cantam hinos revolucionários e empunham armas orientados pela cartilha de Abimael Guzmán, o “presidente Gonzalo”, fundador e líder do grupo peruano Sendero Luminoso, capturado em 1992 e condenado à prisão perpétua. Guzmán foi o líder de uma sangrenta adaptação do maoísmo para a América Latina, em que os camponeses eram aterrorizados para depois serem arregimentados para a causa. No Peru, essa fórmula genocida causou a morte de 75 mil pessoas entre 1980 e 1992.

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Na construção dessa estratégia, a LCP arregimenta para suas fileiras miseráveis sem terras, jovens de classe média do movimento estudantil, através do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) e sindicalistas ligados à Liga Operária e Camponesa (LOC). Internacionalmente, os guerrilheiros brasileiros são ligados à International League of Peoples Struggle (ILPS), uma organização marxista com tentáculos espalhados por vários países. Na verdade, a Liga dos Camponeses Pobres, constituída em 1999 e sem registros oficiais, é o braço armado no meio rural da LOC, um grupo rebelde que dirige os sindicatos da construção civil e dos rodoviários em Belo Horizonte.

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Esse grupo é contrário às eleições democráticas, que chama de “farsa burguesa”, classifica o MST de conciliador e diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um “traidor da classe operária e vassalo do imperialismo”. Sua estratégia de tomada do poder inclui a criação de um “Partido Revolucionário do Proletariado”, segundo a cartilha copiada do Sendero: “Um Partido Comunista clandestino que desenvolva a estratégia de cercar a cidade desde o campo, através da guerra popular prolongada.” É assim, dizem os documentos da entidade obtidos por ISTOÉ, que a LCP vai “fazer a revolução”.


FONTE: http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2004/artigo75944-1.htm

O BRASIL TEM GUERRILHA.

EXCLUSIVO
O BRASIL TEM GUERRILHA
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ISTOÉ entra na base da Liga dos Camponeses Pobres, um grupo armado com 20 acampamentos em três Estados, que tem nove vezes mais combatentes que o PC do B na Guerrilha do Araguaia e cujas ações resultaram na morte de 22 pessoas no ano passado.
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Por ALAN RODRIGUES (TEXTO)
E ALEXANDRE SANT'ANNA (FOTOS) - Buritis (RO)
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O barulho de dois tiros de revólver quebrou o silêncio da noite na pacata comunidade rural de Jacilândia, distante 38 quilômetros da cidade de Buritis, Estado de Rondônia. Passava pouco das 22 horas do dia 22 de fevereiro quando três homens encapuzados bloquearam a estrada de terra que liga o lugarejo ao município e friamente executaram à queima-roupa o agricultor Paulo Roberto Garcia. Aos 28 anos, ele tombou com os disparos de revólver calibre 38 na nuca. Dez horas depois do crime, o corpo de Garcia ainda permanecia no local, estirado nos braços de sua mãe, Maria Tereza de Jesus, à espera da polícia. Era o caçula de seus três filhos. Um mês depois do assassinato, o delegado da Polícia Civil de Rondônia que investiga o caso, Iramar Gonçalves, concluiu: "Ele foi assassinado pelos guerrilheiros da LCP."
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A sigla a que o delegado se refere, com estranha naturalidade, quer dizer Liga dos Camponeses Pobres, uma organização radical de extrema esquerda que adotou a luta armada como estratégia para chegar ao poder no País através da "violência revolucionária". Paulo Roberto foi a mais recente vítima da LCP, que, sob a omissão das autoridades federais e o silêncio do resto do Brasil, se instalou há oito anos na região e, a cada hora, se mostra mais violenta. Apenas em 2007, as operações do grupo produziram 22 vítimas - 18 camponeses ou fazendeiros e quatro guerrilheiros. Amplamente conhecidos em Rondônia, os integrantes da LCP controlam hoje 500 mil hectares. Estão repartidos em 13 bases que se estendem de Jaru, no centro do Estado, às cercanias da capital Porto Velho, se alongando até a fronteira com a Bolívia, região onde eles acabaram de abrir uma estrada. O propósito dos guerrilheiros seria usá-la como rota de fuga, mas, enquanto não são incomodados nem pela Polícia Federal nem pelo Exército, a trilha clandestina está sendo chamada de transcocaineira - por ela, segundo a polícia local, passam drogas, contrabando e as armas da guerrilha.
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ÁREA PROIBIDA
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A nenhuma dessas colônias o poder público tem acesso. Sob o manto da "revolução agrária", a LCP empunha as bandeiras do combate à burguesia, ao imperialismo e ao latifúndio, enquanto seus militantes assaltam, torturam, matam e aterrorizam cidades e zonas rurais nessas profundezas do Brasil. Encapuzados, armados com metralhadoras, pistolas, granadas e fuzis AR-15, FAL e AK-47 de uso exclusivo das Forças Armadas, eles já somam quase nove vezes mais combatentes que os 60 militantes do PCdoB que se embrenharam na Floresta Amazônica no início dos anos 70 na lendária Guerrilha do Araguaia. "A Colômbia é aqui", diz o delegado Gonçalves, numa referência às Farc.


NO CORAÇÃO DA GUERRILHA Armado de AR-15, policial entra em território dominado pela LCP e uma barreira que proíbe o acesso ao centro de treinamento militar. "Não dá para observá-los, mas estamos sob sua mira", diz à reportagem de ISTOÉ um sargento da PM de Rondônia
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A reportagem de ISTOÉ entrou nessa área proibida. No distrito de Jacinópolis, a 450 quilômetros de Porto Velho, bate o coração da guerrilha. Segundo o serviço secreto da Polícia Militar de Rondônia, é ali que está o campo de treinamento. "Nem com 50 homens armados eu tenho coragem de entrar na invasão deles", admite o delegado. Caminhar pelas hostis estradas enlameadas é como pisar em solo minado. A todo momento e com qualquer pessoa que se converse, o medo de uma emboscada é constante. Os militantes adotam as táticas de bloqueio de estradas e seqüestro das pessoas que trafegam pela área sem um salvo-conduto verbal liberado pela LCP. "É a forma de combater as forças inimigas", escreveram eles num dos panfletos que distribuíram na região. "Esses bandoleiros foram muito bem treinados pelos guerrilheiros das Farc", revela o major Enedy Dias de Araújo, ex-comandante da Polícia Militar de Jaru, cidade onde fica a sede da Liga.
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Para se chegar à chamada "revolução agrária", dizem os documentos da LCP aos quais ISTOÉ teve acesso, a principal ação do grupo é pôr em prática a chamada "violência revolucionária". E, para os habitantes locais, essa tem sido uma violência fria e vingativa. No caso da sua mais recente vítima, o que a LCP fez foi uma execução sumária, após um julgamento interno suscitado pela desconfiança sobre o real propósito da presença de Paulo Roberto Garcia na região. "Eles acreditam que o rapaz era um agente infiltrado como agricultor e não tiveram dúvida em matálo", disse o delegado. Dos 22 mortos de 2007, quatro eram fazendeiros e 14 eram funcionários das fazendas, que a liga camponesa classifica como paramilitares. Na parte dos guerrilheiros, quatro foram enterrados - assassinados em circunstâncias distintas por jagunços das fazendas da região.
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Além de matar, a LCP é acusada pela polícia de incendiar casas, queimar máquinas e equipamentos e devastar a Floresta Amazônica. Os moradores da comunidade onde vivia Garcia não sabem o que é luta de classe, partido revolucionário e muito menos socialismo. Mas eles sabem muito bem que, desde a chegada da LCP naquelas bandas, a morte matada está vencendo a morte morrida.
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ALERTA NA SELVA
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Só quem consegue transitar livremente no território da guerrilha são os caminhões dos madeireiros clandestinos, que pagam um pedágio de R$ 2 mil por dia à LCP para rodar nas estradas de terras controladas pela milícia. Em troca do pedágio, os guerrilheiros dão segurança armada aos madeireiros para que eles possam roubar árvores em propriedades privadas, áreas de conservação e terras indígenas. São terras que a LCP diz ter "tomado" - e o verbo tomar, no lugar de "invadir" ou "ocupar", como prefere o MST, não é mera semântica, mas uma revelação do caráter belicoso do grupo. "A falha é do Exército brasileiro, que deixa esses terroristas ocuparem nossa área de fronteira", acusa o major Josenildo Jacinto do Nascimento. Comandante do Batalhão de Polícia Militar Ambiental, Nascimento sente na pele o poder e a arrogância desse bando armado.
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No ano passado, eles derrubaram uma base militar da Polícia Ambiental dentro de uma unidade de conservação e seqüestraram seus soldados. "A tática utilizada pela LCP para as emboscadas é certeira", admite um dos militares, mantido preso por sete horas. "Como são estradas de terras, no meio da floresta, eles derrubam árvores, que fecham o caminho. Quando as pessoas descem do carro para retirar a tora, são rendidas", diz E. S., militar da Polícia Ambiental, que recorre ao anonimato para se proteger. "Essa guerra é um câncer que está se espalhando pelo Estado", alerta Nascimento.
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Assim como consta nos panfletos da Liga, os guerrilheiros postam homens em bases nos morros com binóculos e rojão para anunciar a "invasão" de sua área por "forças inimigas". Depois de sermos monitorados de perto por grupos de motoqueiros, durante os 38 quilômetros que levamos uma hora e meia para percorrer no território dominado pela LCP, ouvimos uma saraivada de rojões anunciando nossa presença. Estávamos próximos a uma base. O alerta serve também para que os homens armados se infiltrem na mata ocupando as barricadas montadas com grandes árvores nas cercanias dos acampamentos.












MORTE NO CAMPO
O agricultor Garcia (à dir.) foi morto com dois tiros na nuca. "Os guerrilheiros achavam que ele era um agente infiltrado na área da guerrilha", disse o delegado Iramar Gonçalves. Os líderes da LCP acusados de assassinato são Russo (à esq.) e Caco, foragido.

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"O fato é que não dá para observá-los, mas estamos sob sua mira", adverte o militar da Polícia Ambiental que nos acompanha. Na verdade, a PM Ambiental é a única força do Estado cuja presença ainda é tolerada pela guerrilha. A explicação é simples: com apenas oito agentes para cuidar de quase 900 mil hectares naquela região, eles não representam ameaça ao grupo. Antes, serão presas fáceis se assim os militantes o desejarem.

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A BASE

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Logo que o barulho dos rojões reverbera na imensidão da selva, as mulheres e crianças vestem seus capuzes e assumem a linha de frente. Quando se chega ao topo de um morro, depois de passar por uma barricada construída com o tronco de uma imensa árvore com a inscrição da Liga, avista-se uma bandeira vermelha tremular na franja de um acampamento de casas com cobertura de palha. Pouco tempo depois, outra barricada e chega-se a uma parada obrigatória. Do outro lado da porteira, transcorreu o seguinte diálogo com uma trupe maltrapilha, encapuzada e arredia.
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- O que vocês vieram fazer aqui? - disse um nervoso interlocutor mascarado.
- Somos jornalistas e queremos saber o que vocês têm a dizer sobre a reforma agrária e a Liga dos Camponeses Pobres.
- Podem ir embora, não temos nada a dizer. Vocês só atrapalham.
- Quantas famílias estão nesta invasão?
- 300.
- Podemos falar com o líder de vocês?
- Aqui não existe líder, todos somos iguais.
- Por que vocês ficam mascarados?
- A máscara é nossa identidade.
- Vocês acreditam que podem fazer uma revolução?
- Não temos que dar satisfações à imprensa burguesa.
- De quem vocês recebem apoio?
- Não interessa.
- Podemos entrar no acampamento?
- De forma alguma. Vão embora daqui!
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TERROR - O fazendeiro Sebastião Conte (acima) teve a sede, os tratores e seu plano de manejo incendiados. Os guerrilheiros não pouparam nem mesmo o posto da Polícia Ambiental, que foi destruído. Nos acampamentos, eles colocam crianças na linha de frente e usam capuzes.

Com colete à prova de balas sob a camisa, saímos da porteira do acampamento por uma questão de segurança e voltamos a percorrer de carro, numa estrada precária, mais uma hora e meia até o primeiro ponto de pedágio da LCP. "No ano passado, fomos presos por eles, éramos oito militares e eles tinham mais de 50 homens armados com metralhadoras", conta o sargento da tropa. "Não tem jeito, para resolver o problema com esse bando só com uma ação conjunta do Exército, da Polícia Federal e das forças do Estado."

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Ao voltar da área dominada pela LCP, fica claro, nas reservadas conversas com alguns poucos moradores dispostos a contar algo, que o terror disseminado pela guerrilha se mede pelo silêncio dos camponeses. Os revoltosos controlam a vida das pessoas, além de investigar quem é quem na região. Quem não "colabora" com eles - fornecendo dinheiro, gado ou parte da produção - vira alvo de ataques covardes. Histórias de funcionários das fazendas da região que foram colocados nus sobre formigueiros ou que apanharam até abandonar o local estão muito presentes na memória dos moradores. As torturas praticadas pelos bandoleiros contra trabalhadores rurais dificultam até contratação de mão-de-obra na região. "Ninguém quer trabalhar mais na minha fazenda", admite Sebastião Conte, proprietário de 30 mil hectares de terra. Ele teve parte de sua terra "tomada" há dois anos pela LCP, a sede da fazenda foi queimada, assim como seus tratores, alojamentos e área do manejo florestal. O fazendeiro, acusado pela Liga de ser um latifundiário, é prova de que o terror da guerrilha é igual para todos. Segundo ele, nos últimos dois anos, teve que enterrar três de seus funcionários. "Todos eles assassinados barbaramente", diz Conte. "Estou pedindo socorro. Não sei mais a quem recorrer."

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Longe de lá, na cidade de Cujubim, os trabalhadores rurais empregados das fazendas não dispensam o porte de armas. "Aqui ou você anda armado ou está morto", diz M.L. O capataz da fazenda e seu filho já perderam a conta de quantas vezes trocaram chumbo com os mascarados que tentam invadir a fazenda. Tratados como paramilitares, os funcionários das fazendas são, depois dos fazendeiros, os alvos prediletos dos ataques da Liga. Nelson Elbrio, gerente da Fazenda Mutum, teve o azar de cair nas mãos da "organização". Ele foi rendido exatamente como os militares da Polícia Ambiental e ficou preso sob a mira de uma arma por seis horas. "Assim que eu fiz a curva na estrada dei de cara com uns 15 homens encapuzados e fortemente armados. Eles me tiraram do carro e a partir daí vivi um inferno", conta Elbrio. "Eles queriam que eu revelasse os segredos da fazenda: quantas pessoas trabalhavam lá, depósito de combustível, se tinha seguranças armados." O sofrimento do funcionário se estendeu até o final da tarde, quando o grupo o arrastou até a sede da fazenda, dando tiros de escopeta próximo a seu ouvido. Em seguida, o obrigaram a assisti-los incendiando a propriedade e os tratores. "Nunca mais dormi bem", diz Elbrio.
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Com a morte à espreita, o medo transformou distritos inteiros em zonas despovoadas - verdadeiras vilas fantasmas - e criou uma massa de gente refugiada de sua própria terra, expulsa pela guerrilha. Em Jacilândia, das 25 casas de madeira da única rua do distrito, só oito estão habitadas. Até a igreja fechou suas portas. "O povo foi embora com medo dos guerrilheiros", conta um dos moradores, um ancião que só admite a entrevista sob o anonimato. "Aqui não podemos falar nada. Para ficar de pé tem que se aprender a viver", diz o velho agricultor. O silêncio e o abandono das terras são a mais dura tradução desse novo modo de viver. Maria, a mãe do agricultor assassinado, não esperou a missa de sétimo dia do caçula. Deixou para trás os 100 hectares, onde tinha 100 cabeças de gado e a casa recém-construída. Partiu para um lugar ignorado, sob a proteção de outro filho.
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O SILÊNCIO
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Naquele pedaço de terra, os poucos que, apesar de tudo, permanecem na área não têm rostos ou nomes. Quando interrogados pela polícia na apuração dos crimes, eles se tornam também cegos e surdos. "Não existe testemunha de nada", reclama o delegado Gonçalves. A razão das infrutíferas apurações policiais é que os insurgentes presos são facilmente liberados pela Justiça. "Como eles usam a tática guerrilheira do uso de máscaras em suas ações, nós ficamos de mãos atadas para puni-los. Nunca se sabe quem de fato matou", queixa-se o delegado. As únicas lideranças da LCP a enfrentar a prisão por causa de assassinatos foram Wenderson Francisco dos Santos (Russo) e Edilberto Resende da Silva (Caco), que se encontra foragido. Os dois foram acusados de participar do assassinato do trabalhador rural Antônio Martins, em 2003. Russo foi absolvido em primeira instância e os promotores recorreram da decisão ao Tribunal de Justiça.
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A ABIN SABE
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Essa tensão é o pano de fundo de uma guerra psicológica que os ideólogos da organização avaliam como a ideal para que a área seja abandonada pelos fazendeiros. "A melhor forma de desocupar a área é destruindo o latifúndio", nos disse um dos mascarados, chamado de Luiz por um colega. Na lógica da LCP, os fazendeiros têm que tomar prejuízo sempre, senão eles não abandonam a terra. À frente de 300 famílias da invasão da Fazenda Catanio, uma propriedade de 25 mil hectares, o guerrilheiro Luiz defende o confisco do gado para matar a fome dos invasores e considera que a "tomada" de terra é a forma legal de fazer uma "revolução agrária". "Se esperarmos a Justiça, ficaremos anos plantados aqui", diz ele.
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A audácia dos militantes da LCP é tanta que no ano passado mais de 200 deles marcharam encapuzados pelas ruas do município de Buritis, a 450 quilômetros de Porto Velho, até parar na porta da delegacia, onde exigiram a saída do delegado Gonçalves da comarca. Motivo: ele tinha prendido um dos líderes da facção guerrilheira. Não satisfeitos, os bandoleiros bateram às portas do Ministério Público e da Justiça exigindo que os titulares dos órgãos também se afastassem. O fato foi reportado ao Ministério da Justiça, ao presidente Lula e ao governo estadual. Até agora, não houve nenhuma resposta. "Ninguém leva a sério nossas denúncias. Eles pensam que estamos brincando, que a denúncia de guerrilha é um delírio", indigna-se o delegado Gonçalves. "Isso vai acabar numa tragédia de proporções alarmantes, e aí sim vão aparecer os defensores dos direitos humanos", critica ele. É exatamente nessa desconsideração das denúncias de promotores, juízes e militares que a Liga ganha força e cresce impunemente.
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Tão trágica quanto o terror que esse grupo armado impõe às comunidades rurais é o fato de os governos estadual e federal saberem da existência desse bando armado - e não fazerem nada. Segundo o Dossiê LCP, um relatório confidencial da polícia de Rondônia, com 120 páginas, encaminhado em dezembro passado à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ao Exército e ao Ministério da Reforma Agrária, o grupo armado, além de cometer todo tipo de barbaridade, é financiado por madeireiros ilegais. Conforme o documento, a LCP controla uma área estimada em 500 mil hectares, onde doutrina mais de quatro mil famílias de camponeses pobres espalhadas por mais de 20 assentamentos da reforma agrária distribuídos pelos Estados de Minas Gerais, Pará e Rondônia. "Eles estão na contramão do que é contemporâneo. Mas, de fato, formaram um 'Estado' paralelo", entende Oswaldo Firmo, juiz de direito da Vara especializada em Conflito Agrário do Estado de Minas Gerais.
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FORÇA-TAREFA
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Documentos em poder de ISTOÉ comprovam que as autoridades federais têm feito ouvidos de mercador para o problema. No dia 11 de janeiro de 2008, o ouvidor agrário do governo federal, desembargador Gercino José da Silva Filho, acusou o recebimento das denúncias encaminhadas a ele sobre as ilegalidades cometidas por integrantes da Liga dos Camponeses Pobres. Mais uma vez, nada foi feito. "Eles dizem que sabem de tudo, mas cadê a ação?", questiona o major Nascimento, comandante da Polícia Militar Ambiental de Rondônia. "Essa situação aqui só será resolvida em conjunto com outras forças militares", admite o major. Foi o que aconteceu no Estado do Pará, em novembro passado, na chamada Operação Paz no Campo, quando uma ação envolvendo o Exército, as polícias civil e militar e a Polícia Federal desocuparam um acampamento da LCP na Fazenda Fourkilha, no sul do Estado. Com dois helicópteros, 200 homens e 40 viaturas, a força-tarefa cercou o local, prendeu cerca de 150 militantes e recolheu um verdadeiro arsenal de guerra. "Precisamos da mão forte do Estado. Aqui somos tratados como cidadãos marginais", emenda o fazendeiro Sebastião Conte.

SERÁ QUE LULA VAI IMITAR OS "AMIGOS" CHAVÉZ E FIDEL E SE PERPETUAR NO PODER?



Confesso que ao ler a matéria reproduzida abaixo fiquei assustado. Assisti em apenas uma semana nosso presidente elogiando a dupla Severino Cavalcante e Renan Calheiros, bradando contra o “complô” da oposição no caso da divulgação dos dados com gastos da gestão de Fernando Henrique Cardoso e chamando Hugo Chavez de pacifista.

Esqueçamos questões partidárias e fiquemos de olho nisso. Não podemos permitir este retrocesso no regime democrático do país. Leiam a matéria e tirem suas conclusões.

Proposta de Devanir Ribeiro extingue reeleição, aumenta mandato e permite que qualquer um concorra com as novas regras, até Lula.

Miro Teixeira (PDT) declarou ontem seu apoio a Devanir e classificou como “absurda” a posição de alguns de tentar “calar” o deputado. O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) prometeu ontem que apresenta até a semana que vem uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que, se aprovada, permitirá o terceiro mandato do presidente Lula. O parlamentar, que ganhou apoiadores no Congresso, acredita que, com a declaração do vice-presidente José Alencar - que disse que o povo deseja Lula mais tempo no poder -, a discussão ganhará espaço. O petista rejeita o rótulo de “golpista”, como sugeriu a oposição, e afirmou que a sua idéia é apenas dar uma nova leitura à Constituição com o apoio do povo. “O que o Congresso aprova não é golpe e estou seguro que o partido terá que discutir a minha tese. O partido não pode ficar de costas para o povo e estou convicto de que o povo aceitará essa discussão, de que o momento é oportuno”, disse.
Miro Teixeira (PDT-RJ) declarou ontem seu apoio abertamente a Devanir e classificou como “absurda” a posição de alguns de tentar “calar” o petista. Miro Teixeira afirmou que já passou da hora de o Legislativo começar uma discussão sobre reeleição e tempo do mandato.“Temos que lembrar que, com medo de o Lula ser eleito, mudaram o mandato presidencial de cinco para quatro anos e que no meio do governo tucano permitiram a reeleição. Depois querem falar que o Devanir que é casuísta?”, questionou Miro. “Acho que o debate é instigante e não tem relação com dar o terceiro mandato para o Lula - quem dá mais um mandato é o povo. Vamos discutir, mas quem vai decidir é o povo.”Devanir ainda não finalizou a sua PEC. A idéia, segundo ele, é recuperar o texto da Constituição de 1988, aumentando o mandato do presidente para cinco anos, sem reeleição. O deputado petista também pretende colocar uma emenda em sua proposta que permita que qualquer um possa se eleger com as novas regras, inclusive o próprio Lula. A idéia de um plebiscito, convocado pelo próprio presidente, também não está descartada. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), descartou a hipótese de a proposta ser votada na Câmara neste ano. Para ele, o assunto não tem espaço na Casa e qualquer tentativa de um terceiro mandato não prosperaria entre os deputados. “Avalio que a idéia não tem espaço, não vejo clima para prosperar e eu pessoalmente também sou contra a idéia [do terceiro mandato]”, disse.

fonte: Folha Online
MARIA CLARA CABRAL